09/11/2008


. Insegurança .

O ferimento não foi à bala, não foi por acidente de trânsito, não foi por queimadura, ela não se deixou cortar por objetos bem afiados. Mas doía, doía tanto, doía feito carne dilascerada por objeto cortante, doía com aquela ardência de queimadura. Aquilo que doía dentro dela tinha nome, sobre nome e até endereço postal. O que doía nela era o que chamavam de insegurança.

Pois, um dia ela acordou e o mundo já não era mais o mesmo. Naquele dia alguma coisa quebrou dentro dela, alguma coisa que não adiantava cola, argamassa, cimento dos mais fortes para consertar. Naquele dia ela ouviu coisas, sentiu coisas que ninguém nunca entenderá, só ela, pois só entende quem vive. Naquele dia o dia virou noite, as luzes se apagaram, e no trancar das portas ela se viu sozinha encostada no canto mais remoto da sala, no encontro de duas paredes que se criaram ali.

Depois criou muros, vidros, pedras, e barreiras, usou armaduras de aço forte e reluzente, espadas, tudo para não doer mais. Ela pensou que ali ficaria segura, que armada, protegida era impenetrável, ali ela soube que não poderia mais ser como antes, e não foi. Não seria igual, não seria a mesma, não foi.

Os encantos adormeceram e ela jamais pensou ver cor novamente na vida, mas viu. Encontrou quem pudesse desarmar aquele castelo de pedras, vidros, barreiras de aço. Encontrou quem pudesse entendê-la, amá-la, salvá-la de si mesma. Encontrou quem pudesse arrancar-lhe a armadura e fazê-la sentir-se protegida de outra maneira. Ele sabia, ele queria dar cor a ela, pois ele sabia que cor ali exisita, e ele sabia que ela também poderia dar cor a ele.

Mas a dor continuava ali, ardida, fervente, não a deixava dormir, não a deixava quieta, sempre a lembrava de que um dia o dia poderia ficar sem cor novamente. E ela começou a ter medo de perder antes de ter, começou a achar que todo e qualquer ato parecido fosse no fundo igual. Ela sabia que ele estava ali, que ele pretendia continuar estando ali, ela sabia que era verdadeiro, mas ela não conseguia não sentir o que sentia.

A dor, a insegurança, não era por feitiços e encantos do presente, a dor era uma amargura do passado que teimava em fazê-la vestir armaduras, que teimava fazê-la defender-se a todo custo, qua a impedia de ficar tranquila quando não havia comunicação, pois ela pensava sempre que o dia iria escurecer.

Ela sabia dele, e ele dela. Batalhas imensas foram traçadas, ela e ele, ele e ela, e no fim ele pediu que ela não mais sentisse aquilo, pois para ele era dolorido vê-la sofrer, para ele a insegurança dela era a descrença, era a única coisa que poderia fazer o dia ecurecer. Ela tentou, ela tenta, ela sabe que ele quer o bem, que ele quer ela, e ela o quer também. Ela sabe que a dor desesperada não leva a nenhum lugar, ela sabe que os traumas podem ser curados se houver como curar, ela sabe que desesperadamente ela só pode sentir o que o poeta sentia.

E desesperadamente ela sabia por toda a sua vida.



**E isso é para você tentar entender como ela se sente...


. Nina .

2 comentários:

  1. é incrivel a capacidade que vc tem de se expressar com as palavras..
    mais incrivel ainda é a forma como me identifico com muitos textos que vc escreve, e com muitos momento que vc vive.

    Parabens pelo blog!

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  2. Me senti lendo uma carta de próprio punho de um Chico Buarque... E esse é um dos maiores elogios que eu sei fazer a uma pessoa.
    Vc escreve mto bem!
    Vou ficar na tua cola...

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