31/01/2012


. Ele me enxugava .

Ele me enxugava.

A questão era toda essa: ele simplesmente me enxugava. Eu saía do banho e lá estava ele com toalha em punho para me enxugar. Ele me envolvia naquela toalha como se achasse que eu ia quebrar, como se dissesse para si mesmo o quanto eu era pequena e preciosa, e eu sentia por um segundo aquela acolhida, aquele calor, aquele gesto, eu me sentia a preciosidade dele. Ele tinha esse dom de fazer pequenas coisas parecerem imensas, ao mesmo tempo que tentava fazer coisas imensas parecerem minúsculas. Não era uma pessoa comum, ou aquela parte que conheci dele não era. Não sei ao certo. Naquela época tudo era sempre ao mesmo tempo agora. Muita coisa mudou de lá para cá, tantas que aquele ano parece que aconteceu há eras. Eu mudei, ele deve ter mudado, mas nunca mais esqueci desse ato, o ato de ele me enxugar. Esqueci até beijos, transas, mas isso, esse momento, esse ser enrolada numa toalha... isso eu não esqueci. É como se certas coisas acontecessem para que a gente não esqueça certos relacionamentos, para que a gente perceba depois de tanto tempo que houve algo de bom ali, para que a gente, mesmo depois de sentir tanta raiva quando acaba, sinta um mínimo de carinho por aquela pessoa que não faz mais parte da nossa vida. 

Hoje eu lembrei desse momento dentro do ônibus gelado, no auge do meu frio, minha mente me levou àquele momento em que ele me enxugava.

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