24/03/2012


. Onde moram os Melhores .

Nasci em 1983, nem precisa fazer as contas, eu faço 29 anos no fim desse ano. Por ter nascido no começo da década de 80 tive a oportunidade de ver, viver e vivenciar momentos únicos da cultura brasileira. E isso me deixa emocionada e ao mesmo tempo com uma pena danada em saber que meus filhos não vão conhecer, ver ao vivo, vivenciar a experiência cultural que tive em momentos extremamente importantes na minha criação de caráter social e intelectual.

Eu tive a oportunidade de ver Ayrton Senna ser o maior esportista do planeta, ser exemplo de amor a uma bandeira, ser exemplo de generosidade, de responsabilidade e de tremenda disciplina e dedicação. Vi uma multidão chorar a sua morte, vi crianças ficando orfãs de um exemplo, vi adultos sentindo a perda de alguém que por anos, e em uma época muito complicada do país, deu orgulho a quem não tinha. Ayrton Senna foi um dos primeiros que me fizeram ter orgulho de ser brasileira. Todo domingo, mesmo bem novinha, eu acordava cedo para vê-lo correr, sentia orgulho do meu país ao vê-lo levantando a bandeira do Brasil toda vez que cruzava a linha de chegada vitorioso, algo morreu em mim quando ele partiu e depois de Ayrton nunca mais acordei domingo cedo para ver F1.

Eu tive a oportunidade de ver Tom Jobim tocar (infelizmente não em um show como gostaria). Eu nem tenho palavras para descrever isso, eu simplesmente fiquei muito sentida quando este artista maravilhoso partiu. Um mestre, um homem que escreveu obras sensacionais, um músico extraordinário, maestro. Esse homem  fez por mim o que muita aula de piano não fez, me fez ter noção de musicalidade, de delicadeza. Nossa! Como eu queria que um filho meu tivesse a identificação que eu tive com Tom Jobim! Fora a parceria com Vinícius, que infelizmente partiu antes que eu pudesse estar aqui para vê-lo. Mas com Tom, eu simplesmente vivenciei parte de Vinícius, vivencio até hoje, essa obra super rica, essa qualidade, essa maravilha! Não sei se já falei mas sou meio esquisita quando morre alguém, quase nunca choro, não chorei com Tom, mas o que senti... era como se alguém da minha família tivesse partido.

Eu tive a oportunidade de ver Chico Anysio.

Chico partiu hoje, e em mim ficou um vazio. Sim, eu era fã, mas mais que isso, a admiração por Chico era maior até que simplesmente por um artista fabuloso que torcia para o mesmo time que eu. Chico Anysio para mim é, foi, será para sempre o maior, o melhor, o mais sensacional humorista de todos. Eu simplesmente fiquei chocada, quando criança, ao descobrir que o Professor Raimundo era um personagem feito por ele. Eu simplesmente me mijava de medo de Bento Carneiro, o Vampiro Brasileiro. Eu ria de me escangalhar das músicas que ele criava ao lado de Arnaud Rodrigues com Baiano e Novos Caetanos. Que homem sensacional! Viveu como quis, fez o que quis, falou o que quis, foi quem quis quando quis! 

Chico Anysio me ensinou a ter bom humor, me ensinou o que era humor! Se eu rio hoje, se eu entendo ironia, se eu entendo piada, se eu sou uma piada, se eu faço rir com as poucas besteiras que falo, eu devo tudo isso ao Chico. Simples assim. 

Eu presenciei momentos fantásticos da história do meu país e poderia ficar escrevendo horrores sobre isso, afinal não falei da Cassia Eller, nem de Renato Russo, nem de Cazuza, nem dos Mamonas, nem de Raul Seixas. E quem sabe em outro post eu não fale mais, né? Pois o assunto é uma delícia e rende! E aqui, nesse meu país abençoado, é onde moram os Melhores!

Mas escrevi isso hoje por causa do Chico que me deixou orfã, me deixou abandonadinha aqui no canto de casa sem querer cantar uma linda canção.

E sabe o que me faz pensar sempre que perdemos um talento dessa nossa cultura tão rica? Eu penso na pena que é saber que meus filhos e netos só vão conhecer o Chico, o Ayrton, o Tom por vídeos, por momentos gravados de outras épocas (que farei questão de mostrar), mas eles não sentirão o momento, o ao vivo, o a cores. 

Descanse, mestre! Seu trabalho foi bem feito! Eu só espero que Deus tendo te levado, crie mais humoristas maravilhosos, inteligentes (dá-lhe Adnet!), carismáticos que falem do povo para o povo pelo povo. Vai com Deus! Fará falta demais!

E para terminar, dois vídeos super diferentes para mostrar a faceta do humorista mais inteligente e versátil que o meu país já teve: Salve, Chico!



Um comentário:

 
Desvaneios de Madrugada - Copyright © 2016 - Todos os direitos reservados.
imagem-logo