29/04/2012


. Depois .

Não dormiu. Já não dormia direito há anos, mas dessa vez foi diferente. Não dormiu ao se perceber acreditando que ali poderia haver alguma mudança maior que todas as outras que já vinham sendo feitas ao longo de todos os anos mal dormidos. 

Resolveu fazer as pazes com a espontaneidade, resolveu e fez. Levantou-se antes e ao olhá-lo dormindo ali em paz, entendeu o que havia tirado o seu sono. Era ele a insônia dela. 

Passou a noite inteira não acreditando em tudo que havia acontecido, não conseguia conceber que havia feito as pazes com a improbabilidade. E ele dormia tranquilo ao seu lado, enquanto ela fritava em pensamentos que achava que nunca mais teria. Era ele a inquietação dela.

Por todos os anos que não dormiu querendo sentir aquilo, nunca imaginou que sentindo se tornaria insone. Ela sentia paz. E depois de anos sentindo angústia, sentir paz foi realmente impactante. Acabou que a paz que ela queria, que ali naquele momento era o sono dele, se transformou na inquietação de quem espera sem esperar por nada.

Considerou, sinceramente, abaixar a guarda de toda aquela rudeza que vinha carregando há anos e pensava que se houvessem machucados no caminho seriam cicatrizes menores do que todas aquelas que já haviam sido feitas no seu coração. Ela soube que a partir daquele momento tudo que estava antes, tudo, estava sendo apagado. Ela soube que depois daquele momento, daquela cama, daquele homem dormindo ao seu lado, tudo que viera antes fora apagado do jeito que sempre quis que fosse.

Ele era a paz que ela almejou por todo aquele tempo de angústia, de medo, de solidão e sofrimento.

Não o acordou, ficou velando um sono pesado, um corpo relaxado, ele. Quando ele, ao esticar o braço sobre ela, abriu os olhos devagar e deu um leve sorriso sonolento como quem convida a participar de um sonho bom que se está tendo, ela aceitou aquele braço, aquele abraço, relaxou no peito dele e fechou os olhos sentindo a paz, a paz dele que era dela agora.

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