22/04/2012


. Exposição .


Exposição

Em tempos de redes sociais e exposição em massa, eles tinham um acordo: ele não a exporia e em troca não seria exposto. Funcionou até a página dois, já que ambos se apaixonaram e mesmo assim não expuseram seu relacionamento para o mundo tomar conhecimento.

Enquanto casais ditos normais viviam da falsa segurança de um status de relacionamento em alguma rede social, ele continuava crendo que alianças não deveriam ser usadas enquanto não houvesse a real intenção de compromisso, sendo elas virtuais ou reais. Ela se fazia presente em cada ato que ele participava, porém, sempre deixando claro que ali, entre os dois, havia compromisso sério, sim. Todas as tentativas dela eram em prol da marcação de território.

Não havia uma fotografia, um comentário amoroso, uma menção ao nome dela em nada que ele escrevia, em nada que ele vivia, em nada que ele postava. Fingia não se importar, porque na verdade o que importava para ela era o mundo real, mas também não sabia até que ponto a realidade era aquilo que vivia e não aquilo que ele dizia e mostrava viver.

A cada fotografia, a cada frase, a cada check in (essa modernidade que nos segue e que nos faz querer que nos sigam também) ela estava presente de algum modo. Ou ela curtia (outra modalidade dessa pós modernidade que tivera que aprender como recurso, ou melhor dizendo, como artilharia pesada contra qualquer uma que pudesse achar que ele estava ali para barganhas), ou ela comentava, ou ela fazia o mesmo check in no mesmo momento ao mesmo tempo que ele. Andava com o celular escondido no bolso, celular não, smarthphone, daqueles que até fazem ligações como se fossem telefones comuns.

Talvez ele na névoa que cobria aquele pensamento tão moderno de não parecer comprometido com alguém, não enxergasse o que tantas mulheres que desejavam estar ali no lugar dela, percebiam. Ela se incomodava, sim, com a aquela falta de exposição.

Ele não se expunha, ela rezava para que ele a expusesse. Era nítido. Chegou a envolver as amigas naquele ciclo vicioso de: ‘comenta que ele é meu namorado’ ou ‘marca o meu território para mim’, ‘escreve que foi ótimo nos encontrar’, ‘mete que somos um casal lindo juntos’. Não deu certo, não estava dando pelo menos.

Ela queria mesmo era o que todas as outras queriam: o cara bem sucedido na palma das suas mãos, casamento, mamãe chamando de ‘meu genro’, mas para agradar aceitava e admitia toda aquela liberdade virtual que ele tinha.

Até que um dia, na insegurança burra de quem tem curiosidade, descobriu a senha dele da tal rede social. E foi aí que percebeu que quem muito alguém esconde é porque também tem alguém a quem esconder. No caso dele umas 2 ou 3 ex-paixões mal resolvidas, ou simples amigas que viviam flertando por mensagens, que ele ao invés de não responder, respondia. E pior, respondia de modo tal que dava abertura para certos tipos de conversa ou expectativas para as pobre moças que nem faziam ideia que ele andava vivendo em clima de romance marital.

Boquiaberta, aprendeu a nunca mais mexer no que não era dela. Terminaram? Não. Ela continua fingindo que não sabe de nada, ele continua sem saber que ela sabe de alguma coisa. A página dois dela virou página cem. Preferiu continuar no acordo, fez a escolha de não ficar sozinha, de se submeter ao que se submetia e viver nas sombras, pois metera na cabeça que na verdade a realidade não era aquela construída de mensagens virtuais, mas sim aquela em que ele cozinhava para ela, tocava violão no sofá, fazia carinho nos cabelos dela até ela dormir e de vez em quando dava umas sumidas para ‘sair com os amigos’ dele.

Ele continua sem ser exposto e ela continua querendo ser exposta.

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