21/04/2012


. Fugitivo .

Era alto o som da música. Jazz. Blue. Rock. Ele não sabia ao certo. Há dias não dormia, não tinha mais sono.  Seus jeans denunciavam a falta que a máquina de lavar fazia, mas a preguiça o impedia de arrumar conserto para qualquer coisa que estivesse quebrada em si mesmo. 

Havia chagado ali não sabia como e a vontade já era de sair correndo daquele lugar frio e escuro. Pensou que driblando o destino talvez fosse ajudado por alguma força maior do universo, mas não acreditava em nada disso. Não houve ajuda. Pensava nela, mas preferia acreditar que não era hora para tal encontro (ou seria encanto). 

Puxou uma cadeira e sentou no bar. Pediu dois chopps, um whisky, dois, três... perdera a conta ou a conta se perdeu dele. Já não era tão nítido tudo aquilo que pensava ver. Em sua visão embaçada, via o rosto dela em todos os lugares, em todas as mulheres. Trocou o bar por uma quadra de escola de samba onde não havia sax ou baixos ou guitarras melódicas que o fizesse pensar em ser novamente de alguém. Rodeado por amigos, mal ouvia seus pensamentos, o barulho dos surdos, dos tamborins, o samba o fazia feliz. Fechou seus olhos, tentou encontrar um equilíbrio que nem sabia mais se existia dentro de si, cambaleou, tentou se recompor, abaixou a cabeça entre os joelhos e então ela veio, mais uma vez, ao pensamento. 

Por mais que não quisesse, por mais que fugisse, o momento dele era dela. Tentou de todas as formas apagá-la, esquecê-la. Passaria semanas fora se fosse possível, anos talvez. Sumiria e ainda assim não conseguiria fugir de si mesmo, do pensamento nela. O passado iria junto impresso nas lembranças dela que agora faziam parte do que ele havia se tornado. Morreria em qualquer lugar do mundo e mesmo assim levaria todas as lembranças, todos os momentos daquele dia com ela.

Foi embora porque era fraco. Desprendido do mundo, agia conforme suas próprias leis. Se deixou esmorecer diante dos fatos: ela o queria, o desejava, não havia porque sofrimento naquilo tudo, não havia porque fugir dela, dos sentimento que ela sentia por ele. 

Ele fugia de si mesmo. Esqueceu seus próprios tabus, fez pouco caso do que pensavam a seu respeito. Fugiu. Deixou marcas no caminho caso quisesse voltar. Era covarde, sozinho. Fugiu arranhado por todos os gritos, por todas as lágrimas, e nunca mais olhou para trás.

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