16/12/2012


. Aquela que dói mais .


A gente foi feliz, não foi? Eu, você, os cachorros, a cerca branca, as paredes amarelas. E no entanto, acabou. Engraçado como hoje eu vejo que não faltou amor, engraçado como o que atrapalhou a gente foi justamente o amor.

Era amor demais, querido e tanto e de tal forma que até hoje só o fato de lembrar esse mesmo amor sendo quebrado, só o fato de imaginar tudo o que houve, só isso, me faz ter a mesma angústia. Nossa... era tanto amor.

No outro dia pensei em te mandar mais essa carta, mas como sempre escondi de mim mesma a vontade de entrar em contato com você. Afinal, para que me rasgar inteira novamente? Ouvir seus gritos, sua família inteira sem entender as atitudes que tomávamos já que nos amávamos tanto. Como a gente se feriu, não é? Como a gente conseguiu se ferir daquela maneira? Até hoje não encontro palavras... até hoje não encontro motivos... Até hoje não me encontrei debaixo dos escombros, dos estilhaços das palavras... Até hoje estou tentando me encontrar.

E sabe o que é magnífico? Eu pensei que nunca mais iria amar novamente. Tudo bem que não é o mesmo tipo de amor. Não é mais destrutivo, entende? Não é mais do jeito que a gente fazia, não tem mais copos quebrados, acessos de fúrias, gritos e ironias. Não. Mas é amor. Diferente e talvez de verdade. Eu amo hoje e o que mais me assusta: eu não amo mais você.

A gente muda, querido, nossa! Como a gente muda! É uma conversa que tenho comigo todos os dias. Eu me olho no espelho e penso: nossa! Como eu mudei! E sabe a quem devo essa mudança? Mesmo que de forma torta? A você, querido. Você me quebrou em tantos pedacinhos que na hora de me juntar eu me reinventei. Na hora de me colar eu me transformei. E sabe, querido, as feridas ainda doem, e isso é um saco. Mas eu me reinvento todos os dias, porque esses traumas eu não quero levar para a minha vida, para a minha felicidade. 

A gente se amou tanto... Nossa... me espanta sempre e me torno tão redundante ao lembrar. E o mais incrível é que apesar das cercas brancas, de Leoni tocando ao fundo, dos cachorros latindo no quintal, apesar disso tudo, a gente não se escolheu. A gente preferiu se isentar de todas as culpas. A gente preferiu fingir que o tal do amor não estava ali, a gente preferiu se maltratar.

O engraçado é que hoje essa ferida que dói, essa que eu ainda não consegui curar, eu sinto que ela será a minha cura definitiva. Essa ferida, a que dói numa profundidade sem tamanho... essa... ah, querido, essa é justamente a que vai me salvar.

2 comentários:

  1. Leoni sempre faz parte... rs...

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  2. que coisa bonita! o reconhecimento da importância do outro na nossa vida é uma coisa tão rara. estamos tão acostumados a nos isentar de culpa e de derramá-la na experiência que tivemmos com outras pessoas.

    que bom que você conseguiu se superar e encontrar este discernimento. beijoca.

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