27/10/2012


. A porta .



Diante das impossibilidades da vida o que lhe restava era sentar naquele sofá de couro, balançar as pernas e acariciar com os lábios vermelhos as bordas do copo de whisky. E naquela escuridão azul, esperava que a porta se abrisse voluntariamente, abruptamente, forçosamente. Esperava que aquela porta simplesmente se abrisse.

Estava só, diante de si mesma. Olhava para o espelho esperando poder levantar da inercia daquele transe. A fumaça do cigarro a tornara cinza com o passar dos anos. Ou era a falta de brilho nos olhos que a faziam parecer não ter mais cor?

Tinha um sorriso sarcástico nos lábios, um nó na garganta e uma gargalhada presa. O cheiro do couro a enebriava. Sentia-se amante daquele lugar, como se tudo que pertencesse a ela fosse na verdade de qualquer outra pessoa. Descruzou as pernas, recostou-se, derreteu-se. A porta não abriu. O sol não coloriu a sala com outras cores. Azul... somente azul. 

O descaso a consumiu. Todos os pensamentos agora eram de solidão. A sala ficou fria de repente. Tremeu. Tomou mais um gole do whisky. Deixou o copo cair da sua mão vazio lentamente. Colocou o copo ao lado do sofá, apagou o cigarro, levantou-se... Fitou o sofá por dois segundos abriu a porta e saiu.

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