23/09/2013


. Especial Balzaca: Vrum...30 por Bruna Rebello .

Vrum...30
por Bruna Rebello

E então, eu fui dormir com vinte-e-poucos e acordei com quase-trinta.
Bem assim, rápido como a distância de uma letra maiúscula até o ponto final.

De repente, eu descobria que era, de fato, perecível ao tempo. E que cabelos brancos, rugas e pelancas começariam a conviver comigo em intensidades inimagináveis.

Me assustou o peso de tantas páginas já escritas. Pela primeira vez, eu mencionava alguma história mirabolante que acontecera a dez anos atrás. Porque pela primeira vez, há dez anos eu já era adulta. E isso é de enlouquecer.

Me assustaram as páginas brancas que vi pela frente, já que o combo vestibular-estágio-efetivação havia sido completado, enquanto o noivar-casar-engravidar não dava pistas de aparecer tão cedo.

Com quase-trinta, descobri o peso e a leveza da idade e entendi de onde surgiram tantos clichês - antes, execrados por mim mesma e agora, orquestrando minha vida:  a maturidade realmente acalma, embora a crise dos trinta aconteça, domingo não é dia de sair, malhar é importante e um par de braços é o que a gente realmente quer.

Descobri também que não interessa tudo o que já passou: sempre haverá aquele sentimento desesperado que começa com "e se". E viva as noites em claro pensando e se eu não tivesse desistido do projeto? E se eu não tivesse brigado com ele? E se eu não pegasse aquele avião?

Em vão.

Eu percebi que "melhor se arrepender de algo que fez do que de algo que não fez" não faz sentido. Porque a partir do momento em que se toma uma decisão, outra é deixada de lado. Não existe escolha sem abdicação (olha mais clichê aí, gente!). Então, o arrependimento é salgado, mas inevitável.

Meus vinte e nove estão se despedindo e com eles, vou abrir um novo capítulo chamado Trinta. Com crise, com dúvida, com a novíssima e amarguíssima percepção de que os anos passam e daqui a outros pontos finais, serão 40, 50, 60, até onde não saber mais. Até onde as páginas brancas se tornarem confortáveis porque já nos demos conta de que não há plano, controle ou projeção que funcione. E, talvez, esse seja um novo prazer da vida aos trinta: não saber e gostar. Deixar o vento bater e aceitar quem me tornei.

Mas, claro, isso é só um talvez. Porque a verdade, como não poderia deixar de ser (e dá-lhe o clichê!): só o tempo vai dizer.

Bruna Rebello tem 29 anos, é jornalista e, como eu, não está lá tão bem resolvida com o fato de fazer 30. 

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