18/07/2008


. De que adianta? .

Tem vezes que parece que Deus não está me vendo, que todas as minhas orações estão passando despercebidas por Ele, enquanto outras – de outras pessoas - são postas na frente. Tem vezes que me acho invisível, parece que tem uma cascata caindo sobre mim sem me molhar, pois sou transparente. Tem vezes que em mim dói profundamente o fato de não ter o abraço de quem me ama, ou melhor, de não ter quem me ame. Tem vezes que eu me afundo em mim à procura da resposta que não vem, da justiça que não veio, das injustiças que se acumulam, e procuro respostas sempre. Tem vezes que fico vazia, sem sentimento algum, como se passasse aqui dentro um aspirador muito forte, que suga tudo, que me suga e nada fica. Tem vezes em que eu rezo muito e em outras não rezo, tem momentos em que desacredito (constantemente) e nesse momento desacreditada, nesse momento é que eu tento me agarrar mais e mais a uma idéia que tenha dado certo, a qual eu nunca encontro.

Mais uma vez, eu sinto esse vazio, essa falta de atenção de Deus, essa transparência, essa falta do que não vem, essa procura do que não existe, essas respostas tão sem perguntas, essas perguntas tão sem resposta. Mais uma vez me enxergo no erro, me vejo no outro sem poder tocá-lo, me vejo perseguir idéias em que somente eu acredito. E assim, mais uma vez, jaz em mim o sentimento de perda, mesmo sabendo que a escolha não é minha, mais uma vez eu vejo no outro o que falta em mim, e mais uma vez percebo que não deu certo.

E aí eu preferia ser realmente transparente, queria realmente não crer em Deus, queria realmente ser descrente e nunca mais acreditar no amor de novo. Mas eu creio, sou de carne e osso, tenho fé, me encho de calmantes naturais (haja floral e chá de camomila!), me atolo em cadernos e documentos de Word, escrevo, sinto, falo, ouço, enobreço e empobreço, velo e durmo, amo e odeio, corro e paro, sigo e fico, choro e rio, ligo e desligo, rezo e rogo pragas.

Sou de carne, sou de alma e o faço por ser assim, por ser libriana com ascendente em escorpião, por me apaixonar à toa, por achar que gêmeos combina com meu signo, por ser eclética até em religião, por ser eu, por ser romântica, por ter amigas assim, por ser mimada, por ser princesa, por ter sonhos, por ser eu.

Mas preferia ser outra, menos sentimental e mais racional. Ser outra: aquela por quem eles se apaixonam (e ele também se apaixonaria), aquela que não tem defeitos, aquela que não sofre por amor, aquela para quem os amores aparecem fácil e parecem fáceis. Não eu, essa que chora, que não aceita a troca, a rejeição, não eu que criei um bloqueio para qualquer coisa que fira o coração.

Percebo que tenho qualidades infinitas que nessas horas atrapalham, pois não queria essa especialidade toda, queria apenas ser alguém por quem ele pudesse se apaixonar, somente ser mais uma sem a pretensão de acontecer nada mais sério e sem o aval de ser amiga daqueles que mais o amam. Nesse momento, queria ser comum, sem qualidades, sem defeitos ou até mesmo sem brilho (aquele que se vê apagado em mim hoje), eu queria ser para mim e para ele alguém palpável. E mesmo sendo, do que adianta somente eu saber disso? Se no fundo, todo mundo acha que eu sou mais, que mereço mais, que tenho uma especialidade enorme que nem eu vejo! Queria ser comum e assim adorada (de verdade) por ele, ser comum e ainda assim amada em meus defeitos, comum e dele.

Do que adianta ser especial e não ter quem se quer ao lado? É preço que se paga? É praga que se roga? Do que adianta ter uma vida plena de qualidades sem alguém para compartilhar delas? Acho que nem tudo vale a pena ser, nem tudo vale a pena... Nem tudo vale a pena sofrer também...

Sábio é aquele que em si vive e para si vive, sem precisar, sem necessitar, sem querer e só vive, pois isso lhe basta.

. Nina .


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