18/02/2014


. A lógica da mini saia .


"Definitivamente: to velha e não sei mais usar roupa curta".

Foi isso que escrevi outro dia no meu perfil no Facebook. Era um dia quente do início de fevereiro (tem lá uns 10 dias) e eu tinha um aniversário para ir no finzinho da tarde, e eis que a opção óbvia era um vestido micro que meu namorado (atenção nisso!) me deu de Natal. 

Coloquei o vestidinho, estampado, cintura baixa, parte de cima de algodão e parte de baixo de malha, a sainha era de malha. Uma graça, uma fofura. E de repente me bateu uma neura: será que está muito curto? Eu ainda acho que sim, estava, e realmente ele é curto, não tinha como levantar o braço para dar sinal no ônibus que ele iria levantar com certeza. 

Preciso dizer que tenho bunda grande. Sempre tive. Magra ou mais cheinha, minha bunda é daquelas que fazem diferença se o vestido for mais rodadinho. 

Encanei totalmente com o fato de que aquele vestido estava curto. Principalmente pelo fato de que ia sozinha ao tal aniversário, sem namorado. Me senti, como disse uma amiga, uma jovem senhora, cheia de pudores que até então não faziam parte de mim. Naquele momento nem me reconheci ao certo, desconheci até mesmo a minha parte piriguete que há alguns anos andava colada em mim feito band aid. 

Fim dos tempos?

Pensei que podia ser algo de idade, como disse na frase inicial me achei velha demais para colocar pernas de fora e a bunda quase ao vento (exageraaaada, jogada aos seus pés, eu sou mesmo exageraaaada). Teria eu sido afetada por anos e anos de machismo? Não creio, minha alma feminista ainda tá aí firme e forte. Mesmo porque quem deu o vestido de presente foi meu namorado, né? E ele estava nem aí se eu ia usar vestido curto com ou sem ele. 

Eu encanei sozinha, eu comigo mesmo, e nem foram as celulites que cismam em aparecer nas coxas que me fizeram ficar envergonhada. Olhando a história de fora nesse momento para escrever esse texto, acho bem que o que me chocou naquele momento foi me ver sensual. Como assim? Assim. Acho que desacostumei com esse papel, com o lado piriguete, com a coisa toda de sensualidade e de repente BUM!, estava lá minha porção mulher dando as caras, ou melhor, as pernas! 

E toda essa coisa de 30, de namorar, noiva, casar, de ter um relacionamento, de esconder-se dos outros caras (por assim dizer), de usar sensualidade só para uma finalidade, tudo isso ficou nítido naquela mini saia, naquele vestidinho. Porque não ensinam a gente a ser sensual simplesmente e naturalmente sem objetivo maior, sempre tem um objetivo em mostrar as pernas, em passar um batom vermelho. E quando a gente faz isso pra gente mesmo, pra se sentir bonita, pra ir na esquina, a gente se espanta. Se espanta com o que a gente é de bonita, do jeito que a gente é mesmo, se espanta que ainda dá um caldo, que apesar das gordurinhas a gente tem tempero. 

Pra mim a lógica da mini saia, de mostrar as pernas, de se surpreender com nossas próprias pernas é simplesmente não nos escondermos de nós mesmas. É para lembrarmos que ali debaixo de todas as confusões, DRs, trabalhos, correria, a gente ainda existe e é bonita, é bonita e é bonita. E caso a gente não lembre, um dia na frente do espelho, as pernas, os lábios, os cabelos, ah eles vão lembrar pra gente.

Um comentário:

  1. Também redescobri há pouco o quanto gosto de usar shorts e saias acima do joelho. Tanto tempo reprimindo a mim mesma. E pra quê?
    Que lição um vestido pode nos dar! Usou, né?

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